Já faz um tempo que eu li o livro Os 4 Compromissos do Don Miguel Ruiz, em que ele afirma que na vida, devemos praticar na nossa conduta os 4 princípios, que são:
- Seja impecável com a sua palavra
- Não leve nada para o lado pessoal
- Não tire conclusões
- Dê o melhor de si
Hoje quero falar sobre aquele que mais me impacta: seja impecável com a sua palavra. Algo tão simples na teoria, mas tão pouco executado na prática. Quando o autor explica este compromisso, não se refere apenas à palavra como linguagem propriamente dita que usamos para nos comunicar, mas afirma que devemos ter cuidado para escolher as palavras que usamos porque expressam o seu poder criativo e manifestam a sua intenção. Já ser impecável, segundo Don Miguel, é não contrariar a sua natureza e assumir a responsabilidade por seus atos. Não pecar.
Se formos transpor isso para a nossa infância, era quando nossa mãe dizia: “não prometa algo que não consegue cumprir”. “Não minta, fale a verdade”. “Não pode xingar os amiguinhos”. “Seja gentil quando falar com as pessoas”. Simples assim, não é mesmo? Mas é fácil falar e difícil de executar.
Assim como na vida, ser impecável com a sua palavra deve ser prioritário também nos negócios – o famosos “walk the talk”: a ação acompanha o que é dito. Faça o que eu digo e não faça o que eu faço não é mais válido para o mundo em que vivemos.
E os consumidores estão muito alinhados com esse compromisso também. Segundo o relatório “Meaningful Brands” 2021, da Havas Group, 75% das marcas poderiam facilmente desaparecer da noite para o dia – as pessoas não se importariam, sendo rapidamente substituídas por outros players.
Estamos entrando na Era do Cinismo – os consumidores procuram desesperadamente transparência e tangibilidade, mas se veem cercados por promessas vazias que não se cumprem. É inegável que os consumidores têm uma expectativa em relação às marcas – buscam autenticidade e ações sustentáveis não somente para si próprios, mas sobretudo para o bem da sociedade e do planeta.
Alguns números interessantes que o relatório nos traz:
- apenas 47% das marcas são vistas como confiáveis pelos consumidores, e a maior parte deles acredita que as marcas não cumprirão as suas promessas – não somente com as pessoas, mas com o mundo e a sociedade;
- 64% das pessoas revelaram preferir comprar de empresas com uma reputação alinhada a um propósito que vai além do lucro;
- 53% afirmaram estar dispostos a pagar mais por uma marca que se posiciona;
Ficou claro que prometer e cumprir precisa estar no topo da agenda de todas as marcas – só assim será possível gerar valor e entregar a maior diferença na vida dos clientes em todos os níveis – funcionalmente, pessoalmente e coletivamente.
O relatório traz ainda oportunidades para as marcas:
• Demanda por EXPERIÊNCIAS SIGNIFICATIVAS
Isso mostra que 66% dos consumidores desejam experiências mais significativas com eles.
Também descobriu que o varejo, as empresas de entretenimento doméstico e tecnologia foram as que mais aprimoraram o seu valor de marca aos olhos dos consumidores durante a pandemia, o que se deve ao comportamento das pessoas
buscando entregas rápidas e acessíveis de mantimentos e outros itens essenciais, e experimentando envolvimento constante com o conteúdo por meio de dispositivos de tecnologia em casa.
• Ajuda em tempos de CRISE
77% dos consumidores esperam que as marcas mostrem apoio às pessoas em tempos de crise.
Existem oportunidades imediatas para estabelecer conexões significativas a curto prazo
em benefícios pessoais; ou seja, para diminuir os estressores da vida. No entanto, 2020 trouxe um aumento nas expectativas em três áreas específicas: mais conexão, mais cuidado com o planeta e mais economia monetária e crescimento.
• FATORES CULTURAIS Divergentes
As complexidades culturais importam
East Meets West): a mentalidade ‘nós’ vs. ‘eu’ influencia as expectativas em torno dos benefícios pessoais e coletivos em diferentes regiões e culturas ao redor do mundo. EUA e Europa Ocidental são os mais desconfiados das marcas, enquanto a América Latina e a Ásia acreditam mais no valor que as marcas agregam à sociedade.
• A Geração Z espera INCLUSÃO
A Geração Z não tem medo de questionar as “regras”, buscar a individualidade e esperar a inclusão.
Esta geração está particularmente focada na redução das desigualdades (entre áreas incluindo raça, sexualidade e oportunidade) e ter mais amor por marcas que liderarem questões sociais e abraçarem a diversidade.
• Demanda por CONTEÚDO ÚTIL
Em comparação com os tempos anteriores à Covid, o conteúdo “útil” está aumentando à medida que os consumidores descobrem como navegar em seu novo normal pessoal. É importante notar, no entanto, que quase metade (48%) de todo o conteúdo fornecido pelas marcas é considerado não significativo para consumidores.
De tudo isso, o que fica é a certeza de que nunca a reputação da marca foi tão importante para a construção de valor de uma marca – brand value. E parte dessa reputação se constrói através do alinhamento entre o que se diz e o que se faz. O que se promete não deve ser nunca aleatório: promessa de marca se alinha com o posicionamento, e quando isso é executado de maneira consistente, é quando a mágica começa a aparecer.
Foto: Karly Santiago